VIDA DA CONGREGAÇÃO

VOCAÇÃO E MISSÃO DOS DEHONIANOS NA ÍNDIA

Hadrianus Wardjito (CU)

Introdução

A Índia tem 3.166.414 km2 e 918.570.000 de habitantes, com uma população urbana de 27%. A população cresce à razão de 2,1% ao ano. A expectativa de vida é de 67 anos, o analfabetismo, 52,1%. A língua nacional é o hindi, sendo o inglês é reconhecido pelas autoridades como língua judicial e outras 17 línguas são reconhecidas pela Constituição. Há mais umas 200 línguas faladas e centenas de dialetos. Há 17 grupos étnicos principais, tais como indo-europeus (no centro e norte do país), dravídicos (no sul) e grupos minoritários. A Índia é um país muito religioso com hindus (83%), muçulmanos (11,2%), cristãos (2%), sikhs (1,89%), budistas (0,7%) e jainistas (0,48%). Há também persas e judeus. Há uma minoria de animistas.

O país é dividido em 25 estados e 7 territórios, sob a direção do governo central. É uma república parlamentar. O PIB é de 319 bilhões de dólares com um crescimento anual de 6,9% (1996) e uma renda per cápita de 348 dólares. A inflação anual é de 6,8% e a dívida externa alcança 93,8 bilhões. Os principais fornecedores são a União Européia (25,9%), os Estados Unidos (9,7) e os outros países asiáticos (41,8%). Os principais compradores são a União Européia (27%), Os Estados Unidos (11%) e os países asiáticos (37,7%).

O cristianismo teve seu início na Índia com o apóstolo Tomé e foi incrementado por Francisco Xavier (1542). Representa 15,7 milhões, ou seja, 1,7% da população, com um patriarcado, 24 arquidioceses e 106 dioceses. Há um patriarca, 3 cardeais, 23 arcebispos, 126 bispos, 16.317 padres (9.460 diocesanos, 6.837 religiosos), 2.793 irmãos, 72.778 religiosas e 9.414 seminaristas. Há 1.600 missionários estrangeiros na Índia. 68% do clero indiano é originário de Kerala e Tamil Nadu, os estados do sudeste. A Índia tem cerca de 2000 missionários no exterior.

Breve história de nossa presença na Índia

Esta breve história aborda apenas os momentos mais significativos.1 Estes são:

a) Chegada a 6 de outubro de 1994.

b) Abertura do seminário Dehon Bhavan em South Kumbalanghy, Cochim, a 18 de março de 1997.

c) Abertura da residência provisória para filósofos e teólogos em Aluva, em 1997, tendo depois a residência sido mudada para casa própria em 25 de março de 1999.

d) Abertura do noviciado provisório em Ponnarimmangalam, em abril de 1998.

e) Abertura do programa de formação dos seminaristas no seminário menor da diocese de Guntur em junho de 1998.

A decisão de formar pessoal esteve presente desde o início e era a missão principal, motivada pelo bispo local, dada a abundância de vocações e grande necessidade de missionários para as regiões do norte e em outros países.2 Nós somos uma das tantas congregações convidadas pela diocese a preparar pessoal para o ministério vocacional. Conhecendo nosso carisma, o bispo D. Kurethara expressou seu desejo de fortalecer a devoção ao Sagrado Coração em sua diocese e começar uma pastoral de justiça social e de desenvolvimento. Aceitamos a oferta do bispo. Nossos missionários haveriam de preparar jovens para serem missionários em meio a seu povo e em outros países asiáticos.

Começo atípico

Em tão breve tempo juntamos expressivo número de vocacionados, constituímos quatro comunidades de formação e temos 10 missionários de 6 diferentes países (Holanda, Brasil, USA, Polônia, Itália e Indonésia) que tomam conta dos candidatos. No momento temos dois noviços que professarão em maio de 1999 e teremos três postulantes em outubro do mesmo ano.

É um começo animador. Temos, contudo, algumas lacunas desde o início. Não conseguimos estabelecer um relacionamento recíproco antes de começar a trabalhar juntos. Não tivemos tempo de aprender algo da história secular e religiosa e sobre as culturas locais, línguas, etc.

Reconhecemos estas lacunas e as dificuldades aí originadas. Estamos nos programando neste sentido. Nós próximos anos pretendemos nos ocupar destas questões.

Nosso começo teve o apoio incondicionado do bispo de Cochim. Ele nos emprestou propriedades sem qualquer ônus. Ele próprio recrutou nossos primeiros candidatos e acomodou-os em seu seminário, a um custo simbólico e nos proporcionou uma residência provisória. Para os responsáveis pelo empreendimento tal generosidade pareceu não poder ser ignorada.

O caráter internacional

A decisão de conferir um caráter internacional à nossa missão na Índia foi resultado de um processo de planejamento e provou ser o melhor.

1. A missão não apresenta as características de uma determinada província mas é uma mistura de vários elementos.

2. Fomos forçados a aprender uma língua comum, o inglês, que é a segunda língua oficial daqueles estados sulinos.

3. Criamos uma fraternidade que ultrapassa as fronteiras nacionais, o que é um fator importante num país com tantas fronteiras culturais.

Nenhum método está isento de limitações. A mistura de pessoas, sem um conhecimento prévio, sem conhecimento da eclesiologia, missiologia e formação religiosa alheias causou incompreensões, desentendimentos e tensões. Um programa de conhecimento mútuo teria contribuído para uma eficácia maior no trabalho em conjunto. Em todo o caso, até agora funcionou.

Vínculos com a Igreja local

Estamos situados em duas dioceses e fomos bem acolhidos pelo clero, bispos e leigos de ambas. O fato de ambos os bispos conhecerem a congregação foi um fator positivo. Nós nos entrosamos com os padres de várias formas, na pastoral, nos retiros, em reuniões sociais. Junto com outras comunidades religiosas, somos o principal elemento de missão ad gentes para a Igreja local. A hierarquia de Kerala tem consciência precisa das necessidades da Igreja em outra partes, como o norte do país, e se alegra por ter comunidades que formam missionários para futuras missões nestas áreas.

Expansão para Andra Pradhes3

Nossa razões para a expansão foram:

1. A diocese de Guntur é abençoada com vocações ao passo que em Kerala estão em declínio devido à limitação da natalidade.

2. O bispo nos acolheu muito bem.

3. A região é mais pobre e mais necessitada que Kerala.

4. Teremos melhores condições de recrutar vocações de fora de Kerala porque o pessoal de fora de Kerala reluta em ir para um lugar de língua, cultura, comida, modelo de Igreja e nível sócio-cultural diferentes.

Em junho de 1998 recrutamos nove rapazes de Guntur e os colocamos no seminário menor de Guntur. Nossos padres vão frequentemente a Guntur para se encontrarem com eles e os trazemos a Kerala para algum evento. Em junho de 1999 fixaremos 2 ou 3 religiosos em Guntur. Nosso primeiro grupo ficará conosco e frequentará a Universidade. O segundo grupo iniciará estudando no seminário diocesano.

O compromisso missionário

Elaboramos o seguinte compromisso missionário:

Nós, padres do Sagrado Coração de Jesus na Índia, tomando consciência de quem somos e a que somos chamados a ser na Igreja e na sociedade:

1. Nos comporometemos ao seguinte:

- a aprofundar nossa compreensão, nosso amor e nossa vivência do carisma, confiado primeiramente a Pe. Dehon e, mais tarde, a nós (RV 2-7);

- a viver os conselhos evangélicos em solidariedade com aqueles a quem servimos;

- a viver juntos como irmãos, comprometidos na oração comum, no apoio fraterno e na colaboração e na comunhão d bens (RV 8);

- a construir uma comunidade que reflita em seus membros a diversidade e a riqueza da nação indiana.

2. Nos comprometemos à seguinte missão:

- a promover e desenvolver a espiritualidade e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus presentes entre o povo indiano e no carisma de Pe. Dehon;

- a prestar serviços nas regiões da Índia onde a necessidade de padres e religiosos for mais urgente;

- a servir nos ministérios que melhor reflitam nosso carisma tais como entre os pobres, na promoção da justiça e entre os jovens desamparados;

- a buscar caminhos pelos quais a Congregação possa fazer-se presente entre os cristãos do rito sírio;

- em colaboração com outros dehonianos da Ásia, estabelecer a Congregação em outros países asiáticos, nos quais a necessidade de nosso carisma for mais necessária.

Comentário: este compromisso fala por si mesmo. Entretanto, tecemos estes comentários:

a) “Criar uma comunidade que reflita em seus membros a diversidade e a riqueza da nação indiana”: A Índia não tem o grau de unidade de outros países. Ela é constituída de várias culturas, línguas, religiões, tradições, etc. Tem um caráter de confederação mais do que de uma nação unida. Existem fortes tensões entre suas regiões. Nossa capacidade de abranger essa diversidade e nos enriquecermos por ela é um testemunho muito importante.

b) “Promover e desenvolver a espiritualidade e a devoção ao Coração de Jesus presentes....”: Esta é uma velha e forte devoção que explica, em parte, a boa acolhida que tivemos.

c) “..jovens desamparados”: muitos menores vivem pelas ruas, em conseqüência da pobreza. Eles são explorados financeiramente.

d) “o rito sírio”:4 Eles constituem uma forte presença entre a população católica, clero e religiosos da Índia. O rito sírio tem uma tradição mais antiga que o rito latino, remontando ao tempo do apóstolo Tomé, ou, pelo menos, ao V século, época da qual se tem provas da presença de bispos e padres da Síria na Índia. Como regra geral, comparando com os católicos do rito latino, eles são mais ricos, melhor situados socialmente, têm mais influência. No momento há muita divisão e tensões entre os diversos ritos e os bispos nos proíbem aceitar jovens do rito sírio. Os religiosos têm enfrentado a situação de maneiras distintas.

1. Alguns têm aceitado jovens de diversos ritos e parecem coexistir. Há, porém, sinais de tensões mesmo nas comunidades mais antigas.

2. Alguns têm províncias separadas.

3. Congregações estrangeiras (latinas) tem ramos sírios considerando a possibilidade de crescimento.

Nossa esperança é poder estabelecer, com o tempo, uma fundação síria, o que poderia beneficiar bastante nossa pastoral na Índia. Poderíamos, igualmente, ajudar a sanar esta ferida da Igreja local.

e) “... estabelecer nossa congregação em outros países asiáticos...”: Isto não exclui prestar serviço à Igreja ocidental, mas sempre acentuando a edificação da Igreja da Ásia, pela qual pouco foi feito nos últimos séculos.

Conclusão

Nossa vocação e missão na Índia está apenas no começo. Desde este começo esta presença nos proporcionou alegrias. “A colheita está prestes”. Nós somos trabalhadores entre 918.570.000 habitantes. Esperamos e contamos de todo coração com a colaboração internacional na missão que o Senhor nos confiou. Esta tem sido uma iniciativa atípica desde o começo. Um começo cheio de incertezas, esperanças. Em tudo isto, louvado seja o Senhor que nos enviou e nos cumulou de graças e proteção.

NOTAS

1. Uma história mais completa se encontra em A Semente de Mostarda, Dehoniana 98/1.

2. A diocese de Cochim foi erigida em 1557 pelos portugueses. Conta 200.000 católicos latinos, numa população de 600.000. D. Kurethara, que morreu a 6 de janeiro de 1999, governou a diocese por 24 anos. Através desta diocese, 10 congregações masculinas e 25 femininas foram introduzidas na Índia.

3. A distância entre Cochim e Guntur, uma das dioceses de Andra Pradhes, é de 1090 km, percorridos em 25 horas, de trem.

4. Na Índia há 4 arquidioceses e 18 dioceses do rito siro-malabarês, com 3 milhões de fiéis e uma arquidiocese e quatro dioceses do rito siro-malankara, com 300 mil fiéis.