Os Superiores Maiores dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, junto com os membros da Comissão Econômica Geral e os representantes dos ecônomos e dos promotores de Justiça e Paz, reunidos na VIª Conferência Geral da Congregação, em Recife, de 16 a 26 de maio de 2000, para tratar do tema Economia e Reino de Deus, preparada com a participação de todos os membros da Congregação, apresentamo-lhes as conclusões e propostas da Conferência, que nos convidam a um compromisso mais profundo, concreto e decidido, para que “O Reino do Coração de Jesus seja implantado nas almas e nas sociedades” (Le Règne, n. 1, pp. 1-13: “Notre programme”).
Todos os anos, por ocasião da festa do Sagrado Coração de Jesus, o Padre Geral e Conselho costumam enviar uma carta de felicitações. Este ano, por estarmos reunidos em Conferência geral, pareceu bem a todos que as conclusões e propostas de Recife sejam nosso texto da mensagem. Foram dias de intenso trabalho e tão ricos em experiências, que queremos compartilhar com vocês da maneira mais ampla possível. Em conseqüência, a mensagem será mais extensa e mais técnica; mas, cremos que servirá para a meditação e a reflexão, e estímulo para dar continuidade à Conferência Geral em nossas Províncias, Regiões, Distritos e Comunidades religiosas.
Inspirados e animados pelo Coração de Jesus, somos convidados a colaborar e a empenhar-nos por uma sociedade mais justa e solidária, em que todas as pessoas, e de modo particular os mais desfavorecidos, tenham possibilidades e condições de viver dignamente.
I. Realidade e expectativas
Iniciamos nossa Assembléia, com temor e tremor, pois os temas a tratar eram difíceis e poderíamos cair em generalidades e belas idéias, porém, nada práticas. Era grande a sensação de nossa pequenez; todavia, desde o começo, queríamos trabalhar com decisão, a fim de chegar a conclusões concretas e exeqüíveis.
Convite à ação
Com efeito, procedentes de todas as partes do mundo, sem ignorar o potencial positivo que a globalização pode ter, temos consciência da trágica realidade de um sistema econômico mundializado, que opera dentro e fora de todas as fronteiras, e à margem duma regulamentação social, jurídica e ética. Operando sem restrições, a economia de mercado está na raiz de muitas exclusões, desajustes e empobrecimentos, que afligem grande parte da humanidade. Não podemos ficar inativos, achando que a realidade da economia nada tem a ver conosco. De fato, a Congregação já está presente em muitos lugares e obras, onde se trabalha na promoção humana, no melhoramento das moradias, na defesa do meio ambiente e na luta por uma mudança de estruturas econômicas e políticas, que causam e mantêm essa situação, tão triste, em que se encontram muitos irmãos nossos.
Afirmamos que, intervir nesses campos, faz parte de nosso ser religioso- dehoniano, no mundo de hoje.
Ação conjunta
Achamos que as atividades e os programas de ação, aqui indicados, podem ser desenvolvidos em conjunto, ao interno da Congregação, como também em parceria com outras instituições da Igreja e da sociedade. Nossa contribuição própria e típica, será a da espiritualidade do Coração de Jesus, que nos convida a sermos construtores da paz e da reconciliação, da justiça e da solidariedade na sociedade.
Ação solidária
No contexto do neoliberalismo, da globalização, da crise de valores humanos, sentimos fortemente a necessidade de desenvolver, aprofundar e assumir uma antropologia da solidariedade. Os sistemas econômicos, políticos, sociais etc., ao longo da história, são concretizações de certas concepções que se tem da pessoa humana. Hoje, nos esforços e tentativas de buscar alternativas aos sistemas correntes, está surgindo uma linha de pensamento centrada na pessoa humana solidária, empenhada em humanizar todas as suas atividades.
Suas políticas de ação se inspiram na colaboração ou coordenação dos esforços. Para isso, privilegiam os princípios de solidariedade e de subsidiariedade entre os organismos já existentes e atuantes.
Ação sobre as pessoas e as estruturas
Sabemos que os sistemas, não existem nem agem, por si mesmos. Quem os cria e faz agir, são as pessoas. E essas pessoas, podem ser influenciadas e orientadas.
Pensamos que nosso serviço deva atuar sobre as pessoas e sobre as estruturas, começando por nós mesmos e por nossa instituição congregacional, até agir sobre o ambiente e a realidade que nos cerca. Com efeito, a originalidade da mensagem cristã parte da conversão do homem, que, por sua vez, requer uma mudança de estruturas.
Acreditamos que as coisas irão melhorar, com a colaboração de todos.
II. Uma visão Teológica
Deus cria para dar vida
A economia depende da visão do homem ou antropologia que cada sociedade tenha.
Na antropologia bíblica, Deus é quem toma a iniciativa. É o primeiro (Dt 6,4). Porém, é um “primeiro” muito particular. Deus cria a vida para doar vida. Não cria para “beneficiar-se”, mas para “doar-se”.
Poderíamos dizer que a criação é a primeira fase do abaixamento de Deus. Um Deus Pai que se “abaixa" e fica afetado pela criação. Desde o início, quer instaurar seu Reino e, para isso, cria, saindo de Si e entregandose.
O Filho, homem para os outros
Esta entrega de Deus, torna-se definitiva na encarnação do Filho (Jo 13,16). A encarnação é a segunda fase do aniquilamento de Deus. Agora é o Filho que se despoja de sua dignidade (Fl 2,6-11) e se faz um como nós.
A história de Jesus de Nazaré é a atuação concreta do como se faz e se vive o Reino de Deus. Jesus o proclama desde o início de sua missão: “O Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Esse Reino é a boa nova para os pobres e oprimidos (Lc 4,18). Jesus, a verdadeira imagem de Deus (Ef 1,3-14; Cl 1,15), é o homem para os demais. É vida entregue (1Jo 3,16) para que tenhamos Vida em abundância (Jo 7,37-38; Lc 22, 19-20).
O Espírito Santo, Vida para todos
Essa vida em nós, é obra do Espírito Santo. O Dom de Jesus, no momento de sua entrega (Jo 10,11; 15,12-13), é o Dom de seu próprio Espírito derramado sobre toda carne (Ez 36,24-28). Estamos diante da terceira fase do abaixamento da parte de Deus. É o Espírito que habita no homem para levá-lo à plenitude de Deus (Jo 14,15-28). Esse Espírito nos faz sentir-nos filhos e irmãos (Cl 3,12-17; Ef 1,5; 5,1; Gl 4,4-7) e desperta em nós sentimentos de amor a Deus e ao próximo (Mt 10,41-45), solidariedade (Mt 25, 31-36), compaixão (Lc 6,36), generosidade (Lc 6,38), radicalidade (Lc 5,36).
O Reino de Deus
Deus é amor, e o Reino de Deus é esse amor de Deus em ação. O homem, a imagem de deus (Gn 1,26) é também amor participado.
A lei do Reino não é outra que a do amor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Amor que é serviço e entrega (Jo 13). Esse serviço e entrega aos irmãos é a prova de que obedecemos e amamos a Deus. É a forma de fazer acontecer o Reino de Deus.
Devemos ter presente que o Reino de Deus cresce junto com a cizânia. A realidade do pecado foi introduzida pelo homem, que subverteu o plano original de Deus.
Esse pecado atinge toda a realidade humana e social (Rm 5,11-19). Por Jesus Cristo fomos redimidos do pecado e da morte. Por Jesus Cristo podemos carregar o pecado do mundo e podemos superar suas conseqüências pessoais e sociais.
A economia do Reino de Deus não pode ter por lei o lucro, a ganância e o proveito próprio. Isso é anti-Reino. A economia deste reino tem por lei unicamente o amor, que se traduz em justiça, partilha, doação, entrega, serviço.
O reino de Deus é uma realidade que vai além da história (Mt 25,34), mas que atravessa a história e a orienta, a transforma e a conduz à plenitude. O Reino nunca é alheio à história. O Reino de Deus abre a história à esperança e a levará à plenitude na consumação do dia do Senhor.
Nesta história, a fração do pão (At 2,42), memorial da entrega de Cristo (1Cor 11,24-26), é o Sacramento do Reino. Na Eucaristia se antecipa a realização desse Reino e se vive a experiência gozosa da comunhão e da partilha. A fração do pão eucarístico leva a partilhar o pão de cada dia e a tê-lo todo em comum (At 4,32). A natureza do Reino é a comunhão de todos os seres humanos entre si e com Deus.
Padre Dehon e o Reino
Pe. Dehon abre-se ao Reino de Deus, justamente a partir da experiência fundante do amor do Coração de Jesus. Um amor que amou tanto até esvaziar-se a si mesmo. Entregou tudo o que é, para que nós tenhamos a vida em abundância. A Eucaristia será para Pe. Dehon o compêndio de sua fé e a fonte de sua vida apostólica.
O Reino do Coração de Jesus deve ser instaurado nas almas e nas sociedades. Seu desejo ardente é o “Adveniat Regnum Tuum” da oração de Jesus e da Igreja.
Pedir a vinda do Reino, é esperar esse Reino e saber que já está presente, ainda que não em plenitude. Esperar o Reino é pôr mãos à obra: “a trabalhar”. Esta ação em favor dos pobres é o sinal do amor de Deus. Como podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amamos o próximo, a quem vemos? (1Jo 4,20). Santo Agostinho comenta as palavras do Evangelista, dizendo que o amor de Deus é o primeiro em ordem de princípio; o amor ao próximo é o primeiro em ordem de testemunho. É assim que Pe. Dehon vê a união intrínseca entre a espiritualidade e o compromisso social: “É necessário que o culto ao Sagrado Coração de Jesus, iniciado na vida mística das almas, desça e penetre em toda vida social dos povos. Ele trará o grande remédio às cruéis enfermidades de nosso mundo moral... Somente Ele reconquistará o coração das massas, o coração dos operários, o coração dos jovens...” (Le Règne, n. 2, fév. 1889, pp. 54-57).
Pe. Dehon nos convida a instaurar esse Reino, e podemos dizer que por esse Reino ele vive e por esse Reino ele morre.
As Constituições e o Reino
Nossas Constituições lembram a experiência fundante da qual emana nossa vida: o amor gratuito e precedente de Deus (n. 2).
Somos chamados a ser gratuitos a partir de um amor que precede (n. 21). Isso se realiza sendo profetas do amor e ministros da reconciliação (n. 7), instaurando o Reino de justiça e caridade no mundo (n.32), testemunhando o amor de Cristo no mundo que busca uma unidade difícil e novas relações entre as pessoas e os grupos (n.43).
Nossa vida deve ser um sinal de que o Reino é uma utopia exeqüível ou já iniciada (n. 38 e 39). Nossos prediletos serão os pobres, para lutarmos, junto com eles, contra toda injustiça (n. 51).
Nossa vida cristã e religiosa encontra sua fonte e seu ápice na Eucaristia (n. 80). A Eucaristia repercute em tudo o que somos e vivemos, convertendo nossa vida em oferenda ao Pai (n. 81). Pela Eucaristia somos chamados a colocar toda a nossa vida a serviço da aliança de Deus com seu povo, e a trabalhar pela unidade e a paz entre todos os homens (n. 84).
Conferência Geral de Brusque
A Conferência Geral de Brusque nos indica que a inspiração reparadora deve animar tudo o que somos e tudo o que fazemos. A opção preferencial pelos pobres, nosso compromisso pela justiça social, nossas obras a serviço dos doentes, dos idosos são expressão clara de nossa vocação reparadora (Brusque 22; Cst 25).
III. Linhas-Força da Conferência
Vimos o projeto de Deus sobre o mundo, o homem e a história. Agora queremos descrever alguns caminhos por onde seguir, na tarefa da construção do Reino.
Os bens são para as pessoas
Queremos reafirmar o princípio da Doutrina Social da Igreja sobre o destino universal dos bens e do sentido da atividade do homem no mundo (cf. Gaudium et Spes, nn. 69-72). Os bens, fruto da bondade do Criador e resultado do trabalho do homem, adquirem sentido quando destinados para a pessoa humana e sua plena realização.
Todas as pessoas, e, de modo especial, os pobres, têm direito a todos os bens de que necessitam para viver dignamente. Aqueles que têm mais bens, são chamados à solidariedade e a partilhar seus bens com os carentes e necessitados.
A pessoa humana estará sempre no centro de nossas preocupações, e as atividades e programas que aqui promovemos, visam sempre o bem da pessoa.
Os pobres e nosso voto de pobreza, hoje
Pelo voto de pobreza, somos chamados a aprender a viver com o necessário e suficiente, e a colocar em comum tudo o que possuímos.
Existem suficientes bens para que todas as pessoas tenham condições de viver dignamente. O problema está na distribuição dos bens. Na Congregação, somos convidados a partilhar e repartir nossos bens em nível de comunidades, províncias, regiões, distritos e de toda a Congregação. Esta prática contribuirá para que não faltem bens a ninguém entre nós. O “Nós, Congregação” está intimamente ligado à solidariedade.
Fora da Congregação, nas sociedades em que atuamos e vivemos, somos chamados a estimular e promover a mesma partilha entre nós, os leigos e as comunidades em que atuamos. Ali, em virtude de nossa consagração religiosa, somos chamados a colocar-nos ao lado e a favor do pobre, de forma efetiva e eficaz, buscando sua promoção integral.
Solidariedade na Congregação
Não podemos restringir o conceito de solidariedade e sua prática ao aspecto econômico. A solidariedade deve ser entendida também em sua dimensão social e cultural; de modo especial, ao interno da Congregação, conhecendo outras realidades, línguas, culturas, o que facilita a solidariedade efetiva. Como política de governo da Congregação, seja incentivada a partilha de “know-how” (conhecimento), através do intercâmbio de pessoas, para cursos e atividades, e o intercâmbio de informações, entre as diversas Províncias.
Uma espiritualidade em ação
As atividades em campo social, tanto em nível de Província como em nível pessoal, nascem de nossa espiritualidade, baseada na teologia do Coração de Jesus e no carisma de Pe. Dehon. São tentativas de colocar em prática alguns aspectos de nossa espiritualidade reparadora, acentuando ora a misericórdia, ora a justiça, ora a reconciliação, ou a solidariedade. Não são atividades ou experiências que nascem tão somente de uma percepção sociológica da necessidade de mudança social. Mas, são expressões concretas de experiências de fé.
Ir às causas
Hoje, os problemas sociais são mundiais e estruturais. Constituem um verdadeiro pecado estrutural. Um Estado sozinho, ainda que fosse o mais poderoso da terra, não é capaz de remediá-los. É necessário o entendimento das forças que, através de organismos internacionais, representem os interesses e necessidades de toda a família humana (Centesimus Annus, 58).
Não estaríamos caminhando na linha de Pe. Dehon, se nos restringíssemos às necessidades locais, sem ir às causas dos males e sem pressionar devidamente os centros de poder e de decisão mundiais, para conseguir mudanças radicais.
Nesta direção, temos de lutar por uma autoridade mundial e por organismos democráticos que garantam a liberdade, a justiça, a paz e o direito dos povos.
Os dehonianos (SCJ, consagrados/as, leigos/as), em colaboração com todos os movimentos sociais católicos, ecumênicos, inter-religiosos, e com todas as pessoas de boa vontade, sentimo-nos interpelados a ser promotores de um movimento de pensamento e de ação à altura de nosso tempo.
IV. Opções, propostas e prioridades
A Conferência Geral, depois de ter visto e julgado a realidade, quer agora concretizar o agir. Desde o início, pretendemos chegar a conclusões concretas. São muitas as propostas apresentadas e aprovadas. São como indicadores, por onde queremos que caminhe a Congregação, visibilizando sua espiritualidade e seu compromisso cotidiano, a serviço do Reino. Estas propostas devem orientar e inspirar nossas atuações concretas no âmbito social. Estão repartidas em torno de quatro opções: referentes ao testemunho de pobreza; à formação e à informação no social; aos movimentos e organismos pastorais e sociais, e à administração econômica.
Desta lista geral, sem querer excluir nenhum dos itens mencionados, achamos importante extrair algumas prioridades: três dentre elas como um compromisso imediato de toda a Congregação; as outras têm um alcance apenas regional. Estas últimas foram colocadas pelas Províncias, Regiões e Distritos da respectiva área geocultural.
Ademais, concordamos, expressamente, o compromisso de cada Província, Região e Distrito, e, nelas, cada comunidade local SCJ, estabelecer a prioridade pertinente que deverá manter ali vivos os empenhos assumidos por toda a Congregação, nesta VIª Conferência Geral.
Propostas de ação
1. Sobre o testemunho de pobreza
Instituir, em cada comunidade, a caixa comum, e apresentar, ao superior e ao ecônomo, as contas mensais de todas as entradas e saídas.
Pôr em comum as pensões, salários e outras entradas.
Procurar, na medida do possível, o autofinanciamento, com as entradas de nosso trabalho.
Cada comunidade fixe um teto razoável para seu capital acumulado, e o que estiver acima desse teto, seja encaminhado para as diversas necessidades da Província, Região ou Distrito, ou da sociedade.
Evitar estruturas grandes e luxuosas, não justificadas por um verdadeiro serviço pastoral e social.
Os superiores favoreçam a criação e a animação de comunidades inseridas em ambientes pobres, para uma solidariedade efetiva com os pobres.
Solidariedade generosa com as Províncias, Regiões, Distritos e Comunidades com dificuldades financeiras.
2. Sobre a formação e a informação
2.1. Formação inicial e permanente
Cada Província, Região e Distrito, inclua em sua própria Ratio Formationis, os tempos e modos de formação, teórica e prática, no apostolado social.
Alguns cursos de formação permanente, tratem, explicitamente, temas de caráter social.
Seja favorecida a especialização de religiosos no campo social.
Formação e informação para o povo
O Governo Geral introduza em seu programa, um ou mais encontros de estudo entre peritos, em nível internacional, sobre temas emergentes de justiça, paz e ecologia.
As Províncias, Regiões e Distritos façam o mesmo, em seu próprio nível.
Nossos meios de comunicação introduzam em seus programas as informações referentes à questão social.
Em cada Província, Região ou Distrito, haja um organismo de Justiça e Paz, para a animação da ação social, entre nossos religiosos, como também entre outras pessoas.
3. Sobre Movimentos e Organismos
3.1. Fazer projetos para recuperar a dignidade da pessoa humana
Cada Província, Região e Distrito, tenha, ao menos, uma obra social dedicada a remediar as diversas necessidades: desempregados, desocupados, jovens desorientados, drogados, marginalizados, migrantes, refugiados, excluídos da escola, privados de assistência sanitária, idosos ou pessoas sozinhas e abandonadas etc...
Promover a dignidade e a cultura dos indígenas.
Promover a dignidade da mulher.
Defender toda vida humana, como o primeiro dos direitos.
Apoiar as iniciativas sociais já existentes e os confrades que nelas atuam.
Usar a página SCJWeb para colher as informações a respeito de todos os nossos projetos.
Dar apoio financeiro, ou outro, aos projetos sociais tidos válidos. Por exemplo: cada comunidade SCJ, quando é possível, faça suas aquisições comerciais no “Comércio Solidário”.
Apoio e participação direta dos movimentos e organismos de solidariedade
Discernir os organismos e movimentos sociais consolidados, sem fins lucrativos, e participar com eles, em nível nacional e internacional: Caritas, Anistia Internacional, ONGs ...
Os responsáveis por Justiça e Paz (comissões, secretariados ou encarregados especiais), selecionem os distintos movimentos e organismos que têm como finalidade promover a justiça e a paz, e que estão presentes em suas áreas, diocesanos, religiosos ou leigos, para colaborar ou intervir juntamente com eles, conforme a oportunidade e possibilidade.
Cada Província, Região e Distrito, estude a possibilidade de apoiar uma ONG de voluntariado internacional para projetos de autodesenvolvimento dos povos.
Cada Província, Região e Distrito, participe na campanha para o cancelamento da dívida externa e a eliminação de suas causas.
As áreas geoculturais interessadas, unam-se à Rede “Europa/África”, com sede em Bruxelas, para a defesa e o apoio dos pobres e marginalizados.
Valorização dos leigos
Em continuação ao pensamento e ação de Pe. Dehon, organizar cursos e encontros, para formar grupos cristãos leigos; se prestigie o voluntariado e o mundo estudantil/juvenil.
Fazer chegar ao povo a carta apostólica Christifideles Laici, ainda, em grande parte, desconhecida, e os documentos sociais da Igreja, começando com os leigos dehonianos.
Animar os leigos cristãos a comprometer-se com os sindicatos, associações desportivas, culturais e outras. Animá-los, igualmente, a participar ativamente na política, sem excluir a liderança social nem o encargo político.
Cuidar da preparação social dos leigos, mediante cursos de especialização, criando, se necessário, bolsas de estudo.
4. Sobre a administração Econômica
Investimentos éticos e transparentes
Depositar nosso dinheiro, de preferência, em bancos éticos.
Em cada caso, verificar o tipo de investimento e evitar os imorais ou especulativos, participando também da assembléia dos acionistas, para influir nas políticas, procurando transparência, prudência, responsabilidade e competência.
Atitude coerente para com os funcionários
Em todos os níveis da administração econômica, revisar os salários e benefícios complementares de nossos funcionários, para assegurar-lhes um estilo de vida conforme ao espírito dehoniano de justiça e de caridade, observando as leis sindicais e civis, valendo-nos também da ajuda de peritos.
Em determinados casos, pode ser um dever orientar os funcionários na gestão de seus bens, especialmente, no tocante à educação de seus filhos, saúde e velhice.
Valorizar e contabilizar, de modo legal, de acordo com as circunstâncias, o trabalho de nossos religiosos, equiparando-os aos trabalhadores leigos.
Fundo de solidariedade
Cada Província, Região e Distrito, tenha uma “caixa de solidariedade” para apoiar projetos e necessidades da sociedade. Essa “caixa de solidariedade” estará, também, aberta ao apelo do Governo Geral para as necessidades e emergências mundiais. A caixa de solidariedade é alimentada com as contribuições de cada comunidade scj.
Haja um coordenador geral para os fundos de solidariedade (ecônomo, comissão de finanças, conselheiro ou outro) para garantir uma atenção social e uma distribuição equitativa entre todas as áreas da Congregação, sem discriminações.
As Províncias, Regiões e Distritos, no pedido de financiamento ao Fundo Geral, apresentem um plano de orçamento qüinqüenal para sua execução.
Prioridades
1. Em nível de Congregação
Cada Província, Região e Distrito, prepare peritos no campo social, para:
Conscientizar e educar, dentro e fora da Congregação, na dimensão social.
Tomar em conta, tanto na formação inicial como na permanente, a problemática social e econômica de nosso tempo, em plano mundial e local.
Cada Província, Região e Distrito, tenha um organismo (comissão, secretariado, promotor...) que, tanto no plano interno como no externo da Congregação, incentive o compromisso com a justiça e a paz e a ecologia (salvaguarda da criação).
Em sintonia com o espírito do “Jubileu”, na Congregação, continue-se apoiando o movimento pelo perdão da dívida externa dos países pobres.
2. Em nível de áreas geoculturais
Europa do Norte:
Manter a obra inter-provincial de acolhimento para jovens refugiados, em Luxemburgo.
Europa do Sul:
Criar e manter ONG e associações similares, como uma forma de apoio ao laicato e ao voluntariado.
América do Norte:
Adquirir produtos no mercado solidário, para favorecer uma educação e conversão pessoal.
América do Sul:
Continuar a colaboração inter-provincial no campo formativo e missionário, de acordo com o princípio de solidariedade e do “Nós, Congregação”.
África:
Promover a educação da juventude, com a finalidade de formar pessoas maduras e preparar quadros evangelicamente inspirados, que estejam a serviço da vida sócio-política de nossos países.
Ásia:
Realizar um encontro da área asiática, para tratar do tema: Formação e justiça social.
3. Em nível de Partes (Província, Região, Distrito) e de Comunidades locais SCJ
A Conferência Geral não terminou; não se esgotou ainda a sua tarefa. Deve prosseguir em todas as partes organicamente constituídas da Congregação - isto é, em todas as Províncias, Regiões e Distritos - e em suas respectivas comunidades locais.
É desejo da Conferência que, também, nos citados níveis, se proceda à definição de, ao menos, uma prioridade, que cumpra o objetivo da 5ª Moção do XX Capítulo Geral: “realizar opções apostólicas coerentes com a dimensão social do carisma” (Doc. XVII, p. 392); “opções precisas de pobreza e de serviço aos pobres ... criando uma mentalidade, uma tomada de consciência do tema (o neoliberalismo e suas implicações) para chegar a definições práticas e exigentes, também acerca de nossa administração econômica dos bens” (“Uma estrada a construir....”, n. 8).
Avaliação
Desde seu início, quando foi projetada e preparada, e na sua realização, na Congregação, foi crescendo o sentimento comum de que a Conferência Geral produzisse:
- um renovado compromisso social SCJ, mais do que um simples documento;
- uma conversão, não só das pessoas, mas também da Instituição SCJ como tal; isto é: que causasse impacto sobre os indivíduos e as estruturas congregacionais;
- uma ação sobre as causas e raízes dos problemas sociais, e não só atenuar seus efeitos;
- um empenho solidário com pessoas, movimentos e organismos engajados na mesma luta;
- um apelo à colaboração na causa do Reino, inspirando-se e fundamentando-se nas próprias fontes: o Evangelho, a Doutrina Social da Igreja e o Carisma Dehoniano.
Tudo isso está arraigado na convicção que o compromisso social é dimensão essencial de nosso carisma, é parte indiscutível de nossa missão SCJ, e tem um lugar próprio na Congregação. Quanto mais radical for o empenho, mais profunda e maior será a espiritualidade que o inspira e sustenta, e vice-versa. Assim o demonstra a experiência do Padre Fundador e de muitos Co-irmãos realmente empenhados.
Para poder colher estes frutos, é necessário avaliar, periodicamente, a efetiva realização das opções, propostas e prioridades, aqui estabelecidas.
Conclusão
A Conferência Geral se encerra com a sensação de ter cumprido sua missão. Queremos insistir, com todas as nossas forças, em que todas as propostas são importantes, mesmo que tenhamos extraído algumas como prioritárias. Nelas se colhe o espírito da Conferência e nossa esperança como Congregação. São bem concretas e não são excludentes. Muitas outras propostas ou realidades podem estar sendo atuadas já na Congregação, mas, queremos que estas sejam as que devem concretizar nossos esforços nos próximos anos.
O fato de visarem determinadas realizações, não deve fazer-nos esquecer que nossa preocupação permanente é a causa do homem, conscientes que “o homem é o caminho da Igreja” (Centesimus Annus, 53-62). É o caminho assumido por Cristo na redenção, para cumprir o projeto de seu Pai e para dar a felicidade a todos os seres humanos. A própria criação alcançará sua completa libertação a partir do ser humano (Rm 8,19-22). Portanto, não pode ser outro o nosso caminho. Estamos a serviço do homem, de todo homem e em qualquer circunstância. Nosso horizonte é o homem no mundo; suas esperanças e alegrias, suas dores e frustrações são também as nossas. Temos em mira o ser humano solidário com todos os membros de sua nação e de todos os povos da terra. O concreto nunca deve eclipsar o universal.
À Família Dehoniana queremos dizer que, com esta mensagem, fazemo-los participantes de nossa vida. São determinações para a Congregação SCJ, porém, nelas há um espírito que pode ser partilhado. Esse espírito de serviço, de entrega e de partilha pode ser vivido em comunhão e ser assumido por todos. Convidamo-los, cordialmente, a caminhar conosco.
Que o Sagrado Coração, de cujas riquezas todos recebemos, seja sempre o fundamento, a origem e o fim de nossa vida. Que junto dEle e com Ele saibamos ser testemunhas do insondável mistério do Amor de Deus e não nos cansemos jamais de ser-para-os-outros.
Nossa Senhora da Visitação, cuja festa encerra o mês de maio, seja a estrela que nos guie em nossa caminhada de fiéis e servidores da justiça e da paz.
Membros da VI Conferência Geral SCJ