FLACHES DA PARTIDA E CHEGADA DOS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS A ANGOLA
Eucaristia
Respondendo ao apelo do Provincial e do seu Conselho, reunido em Fátima após a Assembleia de Párocos muitos confrades deslocaram-se a Alfragide a fim de participarem na cerimónia de envio dos primeiros missionários para Angola
A eucaristia foi ás 19:00. presidida por D. António Braga que nos dirigiu algumas palavras de alegria e entusiasmo neste dia tão importante para a Província e a Congregação. A concelebrar estavam o D. Manuel Quintas, que foi convidado a fazer a homilia; o Pe Provincial, que nos brindou com algumas palavras; os três primeiros missionários, o Pe. Joaquim, o Pe Domingos e o Pe Vicente, que também foram convidados a dar um breve testemunho e muitos confrades das nossas comunidades.
O mestre-de-cerimónias, como é óbvio nestas grandes celebrações foi o Pe. Saturino também nesta área. Estavam também presentes os jovens religiosos de Alfragide, assim como alguns paroquianos das nossas comunidades paroquias ou centros de apostolado por onde passaram alguns dos missionários enviados. Assim como, alguns membros do Instituto das irmãs do Coração Misericordioso de Maria. O Roberto Viana e o Hélder encheram a capela de Alfragide com a sua sabedoria e prática musical. O coro foi formado por todos os religiosos presentes, mas de um modo especial os jovens religiosos de Alfragide alegraram a cerimónia com cânticos apropriados para estas ocasiões ajudados pelos três noviços que, a exemplo do mestre são uns verdadeiros rouxinóis a cantar.
Jantar
A comunidade de Alfragide brindou-nos com um jantar que foi abençoado pelo D. António Braga com uma breve oração em Latim.
Convívio
Após o jantar realizou-se um convívio onde partimos o bolo e tomamos um copo. Alguns confrades manifestaram as suas habilidades musicais. De salientar que um destes confrades estava tão animado que até deixou as suas marcas sanguíneas no teclado do piano de Alfragide fivando muito preocupado com o estado do seu dedo, talvez por falta de prática, ou força a mais. Segundo opinião de alguns, este acontecimento, poderia ter como consequências uma certa amnésia no seu pensar ou assunto de comentário na nossa página na Internet. Outro, já com a falta de algum ritmo (dizia o primeiro, algum tempo depois) quase que se esquecia que tinha que regressar ao Porto, tão animado estava. Este apaixona-se facilmente por qualquer instrumento, e sabe tocar muitos. Já era assim quando entrei para o seminário em 1983. Em cada intervalo aparecia a tocar um instrumento diferente.
Depois dos devidos e merecidos agradecimentos á comunidade de Alfragide e ás cozinheiras, regressamos á Cúria Provincial.
Cúria Provincial - dia da partida.
Chegou, finalmente, o dia da partida. Ás 19:00 celebramos a eucaristia com alguns confrades da Cúria. Depois como é de esperar tivemos o jantar de despedida preparado pela sábia cozinheira da Cúria Provincial a D. Luísa. Estiveram presentes o Pe. Isildo e o Pe. Vicente. Após o jantar chegaram alguns religiosos de Alfragide, o Joaquim António, o Ismael, o Ricardo Freire, o Ricardo e o Renato que nos acompanhariam ao aeroporto. Estes estavam tão animados com alguns comes e bebes que não se aperceberam que nós já tínhamos saído para colocar as malas no carro. Após pôr-mos a malas no carro saímos com o Provincial e o ecónomo a caminho do Aeroporto. Após a saída reparamos que ainda não estava ninguém na carrinha. Os convidados continuavam na sala de estar á espera dos missionários. Foi necessário o Provincial tocar a campainha para convidar estes confrades a sair de casa e acompanhar os missionários ao aeroporto.
Aeroporto
Após o chek in voltamos a nos encontrar para conversar mais um pouco e tomar um “café”. A conversa estava animada e o tempo passava. Após as respectivas despedidas subimos para a zona de embarque. Passamos o controle da polícia e dirigimo-nos para as indicações que dão acesso à porta 14. Mas afinal, não era esta porta. Após o primeiro controle da bagagem de mão disseram-nos que tínhamos de voltar para trás, porque não era aquela porta de embarque. Então dirigimo-nos para o lado oposto, que após alguns minutos um funcionário nos dizia que não era para aquele lado mas sim á direita. A porta de embarque é a porta 21. Quando nos aproximámos do 2º controle, o verdadeiro para o voo para Luanda, presenciamos a um acontecimento que mereceu a nossa atenção.
Uma senhora que ia á nossa frente, ao passar na policia começou a apitar o sistema de detecção de metais, acusando algum metal nos sapatos. Nós começamos a rir. O polícia convidou a Senhora a tirar os sapatos e a passar descalça para o outro lado. Um Senhor, para animar a senhora, que estava toda envergonhada, dizia que isto não é nada, pois em Luanda teve que despir-se no Aeroporto. De novo o sorriso. Mas como diz o provérbio “quem se ri por último ri-se melhor”. Um missionário passou sem problema, o mesmo não aconteceu com o outro. Este teve que levar á letra o que diz o evangelho na passagem: ”quem quiser seguir-me, deverá deixar tudo… incluindo os sapatos” Este missionário também teve que descalçar-se.
Viagem
O voo da Tap1217 deslocou na hora prevista. Os nossos lugares foram o 14A e o 14B os mesmos lugares que ocuparam o Pe. Domingos e Provincial na sua primeira viagem a Angola realizada em Setembro. O voo teve a duração de aproximadamente 7 horas e chegou na hora prevista.
Durante o voo foram servidas duas refeições. A primeira, por volta da uma da manhã, a segunda, um lanche, uma hora antes de aterrar em Luanda. O mais interessante é que já estávamos no dia 5 de Março, isto é Sexta-feira de Quaresma. Imaginem o que foi o jantar. Será que os responsáveis pela alimentação nos aviões eram cristãos. Não sei, mas penso que mesmo que fossem não se lembrariam que era uma sexta-feira de Quaresma. Nós após o cheiro demo-nos conta que o menu era carne e não peixe. Não perguntamos se existia alternativa, e para não deixar os responsáveis preocupados, e como já tínhamos alguma fome, não sei se fizemos o melhor, comemos. No entanto não conseguimos descobrir que tipo de carne. A verdade seja dita, estava muito saborosa.
Luanda
A primeira imagem que tive de Luanda, através do avião, veio confirmar tudo o que conhecia de Luanda pela televisão, leituras e fotografias. Grandes avenidas, em asfalto de Angola, terra batida, e muitas com o verdadeiro asfalto, mas com muitos buracos. O aeroporto de Luanda, pelo menos na zona das chegadas, demonstra claramente que o país é verdadeiramente muito pobre. Após o controle do boletim da vacina para a febre amarela, começou o martírio da espera e da melancolia de atender as pessoas de uma forma rápida. Colocamo-nos numa fila que era a que tinha menos pessoas, mas devido por uma lado ao funcionário que demonstrava que não percebia muito de computadores estava constantemente a receber telefonemas. Por outro lado, algumas pessoas não tinham os papéis devidamente preenchidos. Fomos obrigados a mudar de fila. A bagagem já nos esperava no tapete rolante. Felizmente não perdemos nada. Antes de sairmos como é normal tivemos que nos aproximar da alfândega para a verificação da bagagem. Dissemos que éramos padres ao polícia, este não muito convencido perguntou á chefe que estava ao lado e esta autorizou-nos a sair sem abrir as bagagens.
No aeroporto, o espaço é tão pequeno que as pessoas têm que esperar fora do aeroporto. Se está chuva não sei como será. A nos acolher estava a irmã Adelaide, ex-provincial das irmãs de Santa Catarina de Cena que nos têm apoiado na logística do terreno no Kilómetro 9 e o seminarista Lopes da diocese de Luena que será ordenado em breve, mas já é conhecido pelo título de diácono Lopes. Como é de esperar, muita gente a pedir dinheiro e a querer prestar os seus serviços para o transporte da bagagem. O Pe. Domingos veio no carro da irmã, eu vim com o Diácono Lopes. As bagagens vieram neste último. Para que não houvesse nenhuma surpresa, a irmã Adelaide vinha logo atrás do carro do Lopes. Pois pode acontecer que nos muitos engarrafamentos alguma mala fique com outro dono.
Lar da Conferência episcopal de Angola e São Tomé
A nossa casa de acolhimento foi o Lar da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. Este Lar é bastante grande, e muitos dos padres diocesanos ficam nesta casa quando passam por Luanda. Os quatros não são muito grandes, mas têm casa de banho e uma pequena varanda, no entanto são muito quentes.
Como estava transpirado da viagem e do calor, resolvi tomar um banho, mas não tínhamos água da rede. Segundo o que nos disseram parece ser normal faltar a água. A única solução foi buscar um pouco de água num balde a uns bidões que se encontram no corredor para esse fim e tomei o primeiro banho com apenas um balde de água.
Primeira refeição
O almoço neste dia foi peixe, o cheiro não convidava muito, acompanhado com arroz, e umas papas pegajosas, que não gostei mesmo nada. Para beber, tínhamos alguns sumos ou água.
Primeiro contacto com a polícia Angola
Na parte da tarde deste primeiro dia, fomos falar como Pe. Geraldo que é um padre Espiritano que trata de todos os processos de entrada de carros e contentores para as dioceses de Angola.
A caminho da sua casa, tivemos o nosso primeiro contacto com a polícia Angola e o modo de suborno que os mesmos utilizam. Numa rotunda um polícia mandou o Lopes, que era o condutor, parar. Para não obstruir a passagem dos outros carros, este, avançou mais um pouco. Não sabemos qual o porquê da paragem. O policia pediu logo a carta e argumentou que o Lopes não obedeceu ás suas ordens para parar. Nós no meio da rotunda, toda a gente a olhar para nós, o polícia após muita discussão voltou a subir para o pequeno patamar e continuou a orientar o trânsito, (diga-se de passagem se ele lá não estivesse fluía com mais rapidez). Após algum tempo, saímos da rotunda e estacionamos numa artéria próxima. O Lopes voltou atrás para tentar resolver a situação, Mas nada a fazer. Regressou ao carro pegou em 1000 kwanzas e entregou ao polícia, em troca da carta. Se assim não fosse, teria de deslocar-se à esquadra e pagar 3000 kwanzas. Um euro equivale a 97 kz
Chegada do nosso carro
Após o pequeno-almoço fomos ao Stander da Toyota que fica nos confins da terra, levantar o nosso carro. A estrada que dá acesso ao Stand está vedada aos táxis, porque está em obras. Os táxis, carrinhas, a maior parte velhas de 9 lugares mas que transportam 12 ou mais pessoas, são o transporte mais utilizado em Angola Como esta estrada serve muitos bairros, e estando encerrada aos táxis, as pessoas têm que a fazer a pé até á primeira praça de táxis. Parecia um enxame de abelhas, uma autêntica multidão em movimento.
No regresso testamos o nosso carro num dos muitos buracos de Luanda. Este parecia uma lagoa. Deu pena ver um carro novo e já ter que passar por um buraco. Foi o seu baptismo. Passou o teste da água, é um verdadeiro anfíbio.
Uma aventura de um trabalhador angolano
Um dia destes, antes de sair de casa, estive a admirar as manobras de um trabalhador de uma empresa que está a tapar alguns buracos numa das ruas aqui perto, digo alguns, de propósito, pois o maior buraco é já uma lagoa, é perto deste buraco que se passa a cena. Estão três montes, um de areia, um de lixo e outro de terra. Após abastecer o cilindro com água, do buraco - lagoa, para evitar fazer muitas manobras resolveu atravessar o monte de areia que estava ao lado. Conclusão o cilindro ficou preso no meio da areia, não se movia nem para a frente nem para trás. Foi necessário, depois de colocar os óculos de sol, remover parte da areia, para que o cilindro saísse do meio da areia.
Igrejas
A nossa futura Igreja paroquial de Nossa Senhora dos Remédios está quase pronta. Segundo empreiteiro no fim deste mês estarão concluídos os trabalhos.
Visitamos algumas das Igrejas e capelas, entregues aos claretianos. A sua Igreja paroquial está em construção. As restantes capelas são pequenos espaços debaixo de algumas árvores e muito pobres. Os bancos nestas capelas são troncos de palmeiras. Os sinos são feitos, ou com pedaço de ferro atado a uma árvore, ou com uma jante.
Tivemos, também oportunidade para visitar uma comunidade de irmãs que têm um centro médico de consultas de grávidas e materno-infantil. A sala de acolhimento estava completamente cheia, mas as irmãs disseram-nos que naquele dia estava pouca gente, quando têm muita gente, a fila avança pelo quintal e rua.
Contraste entre pobres e ricos
Existe uma enorme diferença entre as casas dos ricos, governantes e militares, e os pobres, a maior parte da população. Na zona de Luanda nova, temos as melhores construções de casas, grandes e bonitas, assim como as melhores estradas. A Soares da Costa está a construir um condomínio para militares com mais de 500 casas. Todo o material vem de Portugal. Alguns destes condomínios são separados dos bairros pobres apenas por uma rede, e para que a lama e a poeira não incomodem, os ricos colocam uma rede fina até um metro de altura.
A água – um verdadeiro problema em Luanda
O grande problema de Luanda é água. A mestre de noviças das irmãs de Jesus Maria e José contou-nos o que a sua comunidade sofre por causa da falta de água. Têm uma escola com centenas de crianças, mas não têm água. Todas as semanas têm que comprar pelo menos 60 mil litros de água; 30 mil para a escola e comunidade e os restantes para a construção de novas salas para a escola.
Dizia a irmã, que uma das razões para a compra daquele terreno, foi existência de água. Neste momento é o maior problema. O tubo que fornecia esta casa, foi descoberto pelas pessoas dos bairros. Estes descobriram o verdadeiro ouro de Luanda, a água. Cada um pensou em tirar apenas umas gotas para matar a sede, o problema está nas dezenas ou talvez milhares de pessoas que queriam uma gota. No início o serviço público de distribuição de água pedia ás irmãs números elevadíssimos de dólares pela água consumida por estas, e pelos que roubavam a água. O angolano diz que não rouba, põe as coisas noutro sítio. Com toda esta situação a água deixou de chegar á casa das irmãs. Estas não recebendo água não pagaram, deixaram de pagar. A empresa cortou a água na saída do tubo principal, antes de passar pelos bairros.
Neste momento, em compensação do direito á água, os serviços de água pública angolanos dão ás irmãs 60 mil litros de água por semana. No entanto estas têm que alugar um camião cisterna para a transportar e nem sempre estão disponíveis
Neste contexto da falta de água, dizia um missionário que o angolano consegue viver com um copo de água por dia.
As crianças
Visitamos uma obra que acolhe 60 meninas, órfãs ou abandonadas. Uma das muitas consequências da guerra é as muitas crianças que perderam os pais e vivem nas ruas, abandonadas e em situações muito dramáticas. Esta casa tem o mesmo problema que as irmãs, a falta de água. Imaginem como funcionará uma obra, como o ABC com pouca ou nenhuma água. Penso que será dramático, no entanto, em Luanda funciona apesar destas dificuldades.
Apresentação dos novos missionários
De dois em dois meses, realiza-se uma reunião no seminário diocesano para a RRAL (religiosos e religiosas da Arquidiocese de Luanda). Consta de vários momentos. O primeiro é de reflexão de um tema, o deste encontro foi “a espiritualidade da Quaresma”, apresentado por uma irmã, que teve oportunidade de falar aos bispos e padres. Não é todos os dias que isto acontece. O segundo momento é de convívio com um lanche. O terceiro, tivemos a presentação dos novos missionários da diocese e partilha de informações. O Pe. Jardim, jesuíta e natural dos Prazeres, falou-nos do movimento do Apostolado da Oração durante 28 minutos. A maior parte do pessoal já estava a dormir.
No fim da apresentação de todos os missionários, o bispo D, Damião, salientou os dois missionários dehonianos apresentados, pertencem ao primeiro grupo em Angola.
Disse ainda, a nível oficial que a nossa futura paróquia chamar-se-á Nossa Senhora do Rosário.
Isto é apenas uma síntese dos primeiros dias da missão em Angola.
Um abraço para todos
Pe. Joaquim Freitas